segunda-feira, 19 de abril de 2021

Bento

 Bento: Não vejo nenhum sentido nas coisas continuarem como são, tudo tem que mudar nesse país.

Pedro: É verdade, esse sistema politico só favorece alguns e precisa deixar de existir.

Stuart: Com certeza as coisas precisam mudar, a pobreza e a desigualdade existem em níveis absurdos aqui. Temos que achar uma solução.

Henrique: É isso. As coisas precisam ser melhoradas se queremos viver em uma sociedade melhor. 

David: Acho que ninguém discorda disso, tudo mundo consegue ver os problemas e perceber que algo está errado. Mas devemos parar e analisar tudo pra não piorar as coisas mais ainda, essa falta de prudência brasileira nunca ajudou.

Henrique: Eu não acho, é melhor realizar as mudanças bem rápido. Se formos lentos, os efeitos positivos vão demorar pra superar os negativos e a vamos sofrer por muito tempo, é melhor que tudo mude de uma vez.

David: É um ponto de vista interessante, mas é perigoso demais achar que você pode consertar tudo num piscar de olhos, esses delírios revolucionários provocaram muito sangue e pouca ação positiva. Geralmente onde mais arrogante é o homem é onde ele mais erra, sendo dominado pela emoção e deixando de pensar.

Henrique: Sim, é um medo justo, mas essas teorias revolucionárias eram lotadas de falhas, então o fracasso ia acontecer de qualquer jeito. De qualquer forma, pelo menos sabemos que algo tem que mudar.

David: Isso sim.

Stuart: Podemos certamente mudar tudo pra melhor, só precisamos manter o diálogo político o mais civil possível, assim vamos chegar a uma solução.

Hans: Ao contrário, acabar com a política é o único jeito de consertar tudo!

Stuart: Você acha mesmo que acabar com o Estado vai ajudar alguém? Só pode estar brincando!

Hans: Não tô brincando, é o único jeito de corrigir a nossa situação.

Pedro: Eu acho uma boa ideia, sinceramente.

David: Bom, todos tem visões bem diferentes de como consertar as coisas. O que um vê como bom é horrível pro outro.

Henrique: Sim. Acho que seria inteligente fazermos algum tipo de comparação entre os objetivos de cada um. Podemos assim usar o método do Stuart pra tentar achar a melhor forma de melhorar esse país.

Bento: Esse excesso de debate típico da democracia não ajuda, não vejo como a solução para o país.

Henrique: Não vamos conseguir muita coisa separados, não acha a melhor opção nós acharmos uma solução juntos? Mesmo que não façamos ela virar realidade vai ajudar a sabermos o que fazer e passar o conhecimento pros outros.

Bento: Bom, cada um ter um ponto de vista é realmente uma péssima ideia, nos unirmos em um ponto de vista é melhor, é verdade. 

Hans: Um pouco de diálogo realmente deve ajudar a vermos quem está certo, boa ideia.

Stuart: Parece uma ótima ideia! Eu começo então falando sobre como eu acho que vamos melhorar as coisas.

Henrique: A ideia do debate como solução foi sua mesmo, acho justo.

Stuart: Certo. A pobreza e a desigualdade aqui são muito altas, as pessoas precisam parar de passar fome e sofrer com o medo de ficar sem nada, então o primeiro ato seria dar uma renda universal para todos que não deixasse ninguém passar necessidade. Enquanto isso, eu também diminuiria o tamanho do Estado pra poder pagar essa mudança e para ter outros benefícios causados por menos intervenção.

David: Você ia então aumentar os benefícios pras pessoas muito pobres? 

Stuart: Também, eu ia deixar esse benefício ser universal, assim todos iam receber igualmente. Além de ajudar os prejudicados pelas falhas econômicas isso ajudaria as pessoas a não ser forçadas a trabalhar.

Pedro: Espera, isso valeria tanto pros pobres quanto para os ricos? Todo cidadão ia ganhar dinheiro?

Stuart: Sim.

Hans: Você então acha que é uma boa ideia olhar para as pessoas que produzem e tirar delas e dar para quem não produz nada? 

Stuart: Sim, as pessoas que não tem nada não podem simplesmente morrer de fome, elas tem que receber uma ajuda. O Estado não produz, então lhe resta distribuir o que é produzido. Pode parecer ruim se falado do jeito errado, mas seria a ação que provocaria as melhores consequências.  

Hans: Mesmo que alguém tenha direito real ao trabalho dos outros, isso no máximo daria direito a uma renda mínima para os incapazes de se sustentar. De jeito nenhum você pode usar os pobres pra justificar a confiscação da riqueza daqueles que produzem para pagar um "direito" a uma renda universal. 

David: Verdade. Se numa pequena comunidade de pescadores uma família não conseguisse pescar muito e sofresse necessidade certamente as pessoas achariam justo que separassem um pouco de alimento para ajudar eles. Agora, acho que a ideia de que uma parte da pesca de todos deva ser separada e distribuída igualmente pra todos, ricos e pobres, não seria pensada por ninguém, é besteira. 

Stuart: Mas você não considera o perigo que a automação causa! No futuro, milhões de empregos podem ser perdidos, o proletariado pode acabar sem o que fazer! Ao invés de manter a ilusão da "utilidade" deles e "santidade" do trabalho, podemos libertar todos os proletariados e os deixar não precisarem sofrer para viverem, mas poderem aproveitar a vida. 

Bento: Haha! Só ai já se vê a ideia de que os gênios da tecnologia vão resolver todos os nossos problemas e que vão, por pura generosidade, estender a mão para as massas ignorantes! Você absorveu a ideologia dos seres mais desprezíveis!

Stuart: Quem seriam eles?

Bento: A maldita elite tecnocrata! Esses seres hedonistas tratam o prazer e como deus e olham o esforço, o trabalho pesado e a virtude como uma maldição! Esses individualistas desprezíveis não se importam com o povo, com a nação, com nada, só querem "curtir" a vida tendo o máximo de satisfação que puderem.   

Stuart: Não é uma ideia da elite, eu quero ajudar os pobres a se libertarem da opressão do trabalho!

Bento: "Opressão"? Você vê os pobres como a elite burguesa os vê, você acha que destruindo o mais nobre neles os liberta!  

Stuart: Ora, é um fato que a felicidade é o objetivo de cada homem, então devemos ajudar todos a buscar isso e acabar com tudo que gera dor. Logo, a renda universal que daria fim ao trabalho é uma linda medida.

Bento: É linda aos olhos de burgueses de alma decadente que não tem nenhuma dedicação a nada que não seja o próprio ventre, isso sim! Uma nação onde as pessoas acham seriamente que tem direito a ter seu hedonismo não só permitido como sustentado! Como uma população dessas conheceria honra, sacrifício ou dever? Um monte de indivíduos egoístas e atomizados não são uma nação. 

Stuart: Não é assim, essas noções antigas de um "dever" coletivista quanto a nação não tem base na realidade! Não devo a ninguém essa devoção aos outros. Viva a sua vida e esqueça essas ideias retrógradas!

Bento: E é exatamente esse individualismo que está destruindo a nação. Imagina quanto suor e sangue foram derramados por nossos antepassados para seus descendentes poderem jogar tudo fora...

Hans: Olha, eu não sou coletivista, mas essa ideia de que alguém tem direito a propriedade dos outros é loucura. Além de imoral, esse roubo teria consequências horríveis. 

Stuart: Também acha isso? A parte do roubo é uma diferença de ética, mas a parte das consequências me interessa. Essa ideia não se sustenta, já que os experimentos com a renda universal não mostraram redução da procura de emprego ou da empregabilidade dos indivíduos testados.  

Hans: O problema de apontar para esses estudos é que essa metodologia científica não funciona em economia, já que os experimentos controlados feitos nas ciências naturais não podem ser realizados com sociedades. Essas pessoas podem continuar trabalhando por causa da renda universal ou apesar da renda universal, você não tem como separar várias sociedades com todas as variáveis iguais exceto a renda universal e ver as diferenças.

Henrique: Sim, é verdade que não tem como se fazer experimentos controlados nessa disciplina, então talvez essas pessoas não deixem de trabalhar com a renda universal  graças a outras razões.

Hans: Olhando estatísticas você pode observar, por exemplo, que donos de carros vermelhos se acidentam mais do que os donos de carros de outras cores, e existiriam várias possíveis explicações pra esse fenômeno. É difícil saber qual a explicação certa, então esses exemplos não provam que a renda universal não provocaria desemprego.

Stuart: Então a evidência empírica é inútil?

Pedro: Acho que o ponto deles é que existem várias explicações possíveis para os fatos, então esses experimentos não provam nada sozinhos, dependem da teoria que os explica. Vemos isso por exemplo na física quântica, a economia sofre do mesmo problema.

Hans: Exatamente. A interpretação certa dos fenômenos econômicos não pode ser decidida por experimentos como nas ciências naturais, então eu diria que o debate deve ser a priori, onde vemos qual a teoria correta a analisando como analisamos uma posição filosófica.

Stuart: Bom, é um bom ponto esse de que não é possível fazer experimentos com a economia igual nas ciências naturais, mas eu não rejeitaria a evidência empírica. No fim, estamos tentando explicar a realidade, e pra isso temos que olhar pra ela.

Pedro: Exatamente, esse método dedutivo também não vale nada se as suas conclusões não refletem o mundo. Não dá pra escolher um lado e ser dogmático.

Henrique: Isso, um meio termo entre vocês parece aceitável. Devemos ver as posições que são consistentes, então ver as que batem com a ação humana e com a evidência empírica.

David: Olha, todo esse debate teórico tem a sua importância, mas olhar para o que funciona faz tempo é um guia muito melhor do que teorias abstratas. Pegue por exemplo a liberdade econômica: países com um bom nível dela consistentemente demonstraram bom nível de crescimento econômico e baixos níveis de pobreza e desigualdade. Se uma teoria econômica não explica isso é inútil.    

Bento: Talvez, mas os fatores econômicos não são os únicos importantes. 

David: É verdade, mas estamos falando disso no momento.

Stuart: Então o ponto parece ser que devemos olhar as questões tanto pelo método a priori quanto o a posteriori

Henrique: Me parece justo.

Pedro: Realmente. Alguns preferem esse e outros aquele, mas a teoria certa não falharia em nenhum.  

Hans: Sim, apesar de eu desconsiderar no geral a evidência empírica sozinha, ela pode fortalecer uma teoria. O que importa é que concordamos que "experimentos econômicos" não podem refutar fatos irrefutáveis sobre a base da economia: a ação humana.

Stuart: E você acha que a tese de que uma renda universal não causaria diminuição no número de empregados vai contra um desses tais fatos da razão humana?

Hans: Sim. Assim como nenhum experimento pode provar que dois mais dois é igual a cinco, nenhum experimento pode provar que a renda universal não causaria desemprego. Se isso parece ser o caso, o experimento está sendo mal interpretado.   

Stuart: Você está livre pra dizer o motivo.

Hans: Assim como é um fato irrefutável que dois mais dois é igual a quatro, é um fato irrefutável que cada ação humana racional busca conseguir o melhor estado possível, não é? 

Stuart: Sim, é verdade que ninguém age de forma a ter um estado pior, isso não faria sentido algum. Mesmo que a ação escolhida seja não agir isso é por acreditar que não agir é o melhor de alguma forma.

Hans: E as pessoas preferem entre dois caminhos de ação que levam ao mesmo resultado o caminho mais difícil ou o mais fácil?

Stuart: Certamente o mais fácil. 

Henrique: Exatamente, cada ação racional tem como objetivo um estado percebido pelo agente como melhor de alguma forma e cada agente busca satisfazer seus desejos da forma que menos exija esforço. Esses axiomas são a base da reflexão econômica e não podem realmente ser negados. 

Stuart: Sim, é verdade. Como isso seria um problema para a renda universal?

Hans: Você paga as pessoas pra não trabalhar usando riqueza confiscada dos que trabalham. O objetivo principal do indivíduo ao trabalhar é pagar contas e obter acesso a bens, então se receber a renda universal e não trabalhar for o suficiente para isso, o individuo não vai trabalhar. 

Stuart: Mas o individuo não poderia ganhar mais trabalhando E recebendo a renda? 

Hans: Poderia, mas provavelmente arranjar um emprego precário pra receber um salário mínimo não compensaria o tempo gasto e o esforço empreendido.

Henrique: Verdade, o indivíduo busca satisfazer seus desejos com o mínimo de esforço. Se a renda permite isso, vai estimular não trabalhar. Muitos só trabalham em certos serviços precários por necessidade financeira. Se dá pra manter o mesmo padrão de vida apenas com a renda universal, muitas pessoas não veriam sentido em trabalhar em outros empregos ruins apenas para ganhar um pouco mais.

Bento: Vocês falam muita besteira! O trabalho não é só um meio de ganhar dinheiro, mas também uma forma de transformar o mundo, de servir os outros e a nação, de dar sentido a vida, de desenvolver virtude etc. Ver o trabalho como um tipo de maldição ou só como um jeito de obter bens são ambas visões hedonistas e sem sentido.

Stuart: Apesar de achar sua visão romântica demais, concordo que o homo economicus que só pensa em ganhar dinheiro não tem base na realidade, não existe só negatividade e egoísmo nos homens. 

Hans: Mas sem fazer qualquer juízo de valor me digam: acham que os indivíduos de classe baixa no geral estão tão motivados assim por causas nobres? Ainda mais nesse país?

Stuart: Não, realmente temos a cultura de tirar vantagem em tudo. Mas isso é algo contingente que pode ser mudado.

Bento: Não só pode como deve. Mas a sua visão faria o contrário disso e nada mais. Dizer que ninguém deve servir a nação com o seu trabalho e ainda pagar todos por existirem É o caminho para fazer cada vez menos pessoas trabalharem. 

Henrique: Você realmente não pode dizer que busca libertar as pessoas do trabalho e então dizer que seu plano não diminui o incentivo para o trabalho. 

Stuart: Acho que entendi o problema, realmente muitos deixariam de trabalhar com a renda.

Hans: Ótimo. A ideia de que a renda universal não diminui o incentivo ao trabalho contradiz os resultados do estudo da ação humana e portanto tem que ser abandonada a priori. Segue então que os resultados dos estudos supostamente não mostrarem isso deve ser explicado de outra forma que não seja a rejeitada.  

David: Talvez essa seja uma conclusão muito forte. O mostrado foi que essa ideia pressupõe uma visão anti-trabalho que ia tornar trabalhar menos bem visto.

Hans: É o bastante pra mim.    

Stuart: Sim. Mas mesmo que seja assim a automação vai fazer a renda universal ser necessária! Vários empregos vão sumir no futuro.  

David: Como então você explica que os países com grande nível de automação como a Dinamarca, a Alemanha e o Japão não estejam com altos níveis de desemprego? Não era para terem perdido os empregos para os robôs? 

Stuart: As pessoas nesses países estão em empregos melhores e mais técnicos.

David: Então basta investirmos em educação melhor, ora! Basta preparar a sociedade para novos empregos. Ficar fechado em medinhos apocalípticos sem nem olhar pro mundo é coisa de maluco.   

Hans: Exatamente. Você acaba de mostrar o erro fatal dessas pessoas com esse medo.

Stuart: E qual seria esse erro?

Hans: Olhar só para o que se vê de cara. Essencialmente olhar unicamente para um grupo específico e não pra sociedade inteira e olhar somente para os efeitos no curto prazo e não para os de longo prazo.

Stuart: Desenvolva.

Hans: Quando uma área começa a ser automatizada, é visível que muitos funcionários serão substituídos e perderão o emprego, qualquer um pode ver os homens na rua, mas exige algum esforço ver além disso.

Stuart: E o que tem além?

Hans: A área automatizada agora é mais eficiente, permitindo produzir com menos gasto e assim permitindo vender mais barato. Isso significa que enquanto alguém antes gastava dez reais no produto agora gasta três, permitindo assim comprar mais do produto ou gastar em outra coisa. Ou seja: algumas pessoas perdem o emprego, sim, mas o aumento da eficiência permite que a sociedade em geral se beneficie e novos empregos surjam.

Henrique: Exato. Esse argumento da automação parte da ideia de que existe uma quantidade x de trabalho, de modo que tornar o trabalho mais eficiente é tornar alguns desempregados. O erro obvio ai é que, numa economia livre ao menos, se o trabalho fica mais eficiente os recursos economizados podem ser usados de outra forma, gerando assim uma nova demanda. 

David: Um exemplo fácil disso é a criação do tear na Revolução Industrial, onde a automação da indústria têxtil permitiu o barateamento dos produtos antes feitos de forma artesanal, o que aumentou muito o acesso a eles e com isso aumentou também muito os empregados nessa área pra poder lidar com a nova demanda. 

Hans: Um bom exemplo mesmo. Olhar para as pessoas perdendo o emprego e não olhar para a sociedade em geral é um erro bem grande. 

Stuart: Entendo o que querem dizer, numa sociedade certa a automação não seria um risco sim. O problema é que não é o nosso caso, as coisas ficam mais eficientes e muitos ainda passam fome, precisamos da renda universal para acabar com isso! 

Hans: Não vejo forma dela não piorar tudo, além, é claro, dos problemas éticos.

Stuart: Não vejo outro caminho, esse é o caminho certo. É o único jeito de vencer a pobreza.

Pedro: Bom, a sua preocupação com os pobres é boa, Stuart, mas como essa renda é o caminho certo?

Stuart: É que muitos não tem o básico no nosso país mesmo com aumentos da produtividade, então temos que garantir que as pessoas tenham um mínimo garantido, assim não passarão fome.  

Pedro: E qual é a razão das pessoas passarem fome mesmo com a eficiência aumentando? Não é a exploração que sofrem graças a um sistema injusto?

Stuart: Exatamente, esse é o problema, apenas poucos se beneficiam do sistema. 

Pedro: E a sua ideia é deixar esse sistema explorador continuar intacto enquanto dá para as massas exploradas o necessário para a subsistência? Seria como se os abolicionistas desistissem da causa e começassem a só defender salários para os escravos.  

Stuart: Bom, olha, é que demoraria muito para reformar o sistema, a renda é um projeto só. Não é importante salvar os pobres o mais rápido possível?

Pedro: Claro que é importante, mas deixar as coisas como estão só mudando tão pouco é não fazer isso. Além dos problemas que essa renda universal tem, a aprovar seria o suficiente pra calar aqueles que pedem por mudança. Os poderosos que oprimem as massas usariam esse projeto para tirar da cabeça dos oprimidos o desejo da emancipação. Concordo com o Bento, essa é uma ideia burguesa. 

Henrique: Tenho o mesmo problema com essa ideia. A justiça só pode ser feita se a injustiça for corrigida, você só vai parar de sangrar se primeiro parar de ser esfaqueado toda vez que o ferimento é costurado.

Pedro: Exatamente. O maior erro dos que se dizem defensores doe pobres nesse país é só tentarem fazer mudanças pequenas e irrelevantes, sem irem até a raiz do problema.

Hans: Eu acho que esses tipos só tem erros mesmo, sinceramente...

David: Haha. Sim, é por ai mesmo. 

Stuart: Nunca olhei as coisas dessa forma, realmente é melhor tentarmos corrigir as injustiças diretamente e não só enxugar gelo. Até que foi uma conversa produtiva. 

David: Ótimo, foi mesmo. Agora, quem é o próximo a dar sugestões de como mudar as coisas?

Hans: O Stuart podia indicar, já que ele acabou de fazer as sugestões. 

Henrique: Faz sentido. 

Stuart: Vocês tem certeza? 

Pedro: Deve ter tido alguém que te deixou curioso, aproveita.

Bento: É, já pode se livrar da duvida de uma vez.

Stuart: Então vai você, Bento, quero ver a sua solução honrada e anti-burguesa. Deixe a nação orgulhosa! 

Pedro: Hehe. Sabia que ia ser ele depois do pequeno debate. 

Bento: Sabia também. 

David: Então nos diz a sua ideia, vamos ver se é melhor. 

Bento: Claro. A primeira coisa a se fazer seria implantar uma ditadura de um grupo especifico com a figura de um líder para unir a nação sob um só conjunto de valores. Assim como na Era Vargas, as mudanças necessárias não podem ser realizadas por meios democráticos.

Stuart: Já sabemos que essa ideia não é melhor do que a minha. Como pode ser bom acabar com a liberdade?

David: Também acho bizarro, mas acho justo ouvir antes de criticar. Para por ai ou você tem mais ideias?

Bento: Além de derrubar a democracia, deveríamos buscar deixar de depender do comércio com estrangeiros e atingir algo não tão longe da autarquia, nossos recursos naturais permitem isso. Essas duas medidas já seriam o bastante para garantir a unidade da nação, a protegendo de ameaças internas e internas que romperiam essa união. Isso seria essencialmente para a parte politica. 

Pedro: Você deve ter algo quanto a economia também, certo?

Stuart: Realmente, não tem como deixar como está.

Bento: Sim, é uma preocupação muito válida essa com os trabalhadores explorados. Nesse campo, deveríamos estabelecer uma visão mais corporativista, unindo os trabalhadores em associações de forma que pudessem negociar em igualdade com os patrões, com essas interações sendo mediadas pelo Estado.  Dessa forma, a economia poderia ser "dirigida" não para o interesse de alguns poucos capitalistas mas para o interesse de todos, substituindo o conflito entre as classes por cooperação. Essas são as mudanças básicas que eu defendo pra tornar esse país grande outra vez.

Henrique: Bom, o primeiro ponto que me choca é a ideia de derrubar a democracia. Como isso pode ser bom?

David: Acho que esse é o ponto mais controverso, então deve ser melhor fazer a crítica em ordem reversa, assim deixamos o melhor pro final.

Henrique: Olha, parece uma boa, tudo bem.

Bento: Tudo bem pra mim também.

Pedro: Sim, vamos começar então com a visão corporativista do Bento. 

Hans: Visão comunista na verdade! Essa ideia de dirigir a economia é pura palhaçada vermelha!

Bento: Eu não sou comunista, é tão ridículo quanto ser liberal. Não quero estado máximo nem mínimo, só o necessário!

Pedro: Também não entendi, de que jeito essa é uma ideia comunista?

Hans: Ué, todo governo comunista controlou a economia e essa ideia envolve controlar a economia, então ambos são irmãos.

Bento: Na realidade, o que se chama "comunismo" é uma sociedade onde os meios de produção e a riqueza são de todos, "comuns". O que você descreve é uma forma de socialismo onde os meios de produção pertencem ao Estado, representando a sociedade. Eu fui esquerdista quando era mais novo, antes de rejeitar essa ideia de ressentidos, a tal "igualdade".

David: E existem um monte de formas de comunismo, não é? Umas onde não tem socialismo antes mas pulam direto pro comunismo.

Bento: Isso. Várias escolas de pensamento comunista rejeitam a ideia do Marx de ter o socialismo antes, tanto é que criticaram muito os países socialistas e os dois lados até se sacanearam, como na Guerra Civil Espanhola. 

David: Convenhamos que esses grupos brigarem não é ruim, haha.

Bento: Não mesmo, he. 

Henrique: Dá pra entender o motivo dessa briga. É meio difícil de acreditar que vão assumir o controle do Estado e eventualmente devolver. Não é a toa que essa ideia sempre falhou. 

Bento: Exatamente, essa era a crítica dos anarquistas aos marxistas, crítica essa confirmada. A crítica marxista aos anarquistas também se confirmou. Eu não vejo sentido em defender qualquer um dos dois.

Hans: Ora, mas isso só significa que você é um socialista no lugar de comunista! Você ainda é algo que odeia. O único jeito de escapar dessas ideias é parar de tentar regular a economia e se render ao capitalismo ou livre mercado.  

Pedro: Caramba, você tem uma certa dificuldade com a ideia de meios de produção, não é? Ver alguém confundir capitalismo com livre mercado é doloroso.   

Hans: O que você entende por "meios de produção"?

Pedro: Todo bem físico usado pra produzir outros bens ou pra produzir serviços.

Henrique: Isso. Eu dividiria os meios de produção entre "recurso natural", que é todo bem oferecido pela natureza, e "capital", que é todo bem criado pelo homem usado para produzir outros bens. Esses dois juntos com "trabalho", que é esforço humano físico ou mental usado na produção de bens, são os três fatores de produção.

Pedro: Valeu! Definir bem as coisas vai ser necessário. Então, Hans, entendeu o que são meios de produção?

Hans: Sim, mas o que é um meio de produção? A terra é um meio de produção para uma sociedade agrária mas não é para uma sociedade caçadora-coletora. Seu conceito é arbitrário, não vejo a importância dele.

Bento: Até ai, preços são arbitrários também e você não ia rejeitar eles e com isso voltar pro escambo...

Pedro: Exatamente, uma característica não ser essencial para a coisa não significa que ela não seja útil, como vemos com preços em produtos ou com profissões em pessoas. O importante é: o Bento ainda mantém os meios de produção na mão dos capitalistas, então ele não é comunista ou socialista.

Hans: Bom, é verdade, mas esse tipo de coisa é errada, o Estado não deve ter qualquer controle da propriedade privada dos outros. 

Bento: Acho melhor você deixar pra defender essa ética burguesa depois, na sua vez. 

David: É, acho que essa discussão ia render mais se fosse assim. 

Hans: Certo, provarei depois o erro do estadismo. 

Stuart: Com outro argumento "irrefutável"?

Hans: Dessa vez vai funcionar, não se preocupe. 

Pedro: Acho que a minha critica também é algo que tem que ficar pra depois, já que envolve muito pesadamente a minha forma de pensar. 

David: Certo. 

Stuart: Bom, nesse caso vamos voltar pro tema. O problema dessa medida corporativista é que ela pode acabar sendo um instrumento para os ricos usarem a força do Estado contra os pobres e manterem privilégios, como é tradicional no nosso país.

Bento: Reconheço que é algo tradicional mesmo, mas isso acontece porque o nosso país, sendo uma democracia, acaba se dividindo em grupos que só pensam em se apoiar e ignoram a nação, além de valorizar o relativismo e com isso o hedonismo. Acabando com a democracia, uniríamos todos em um único objetivo: a nação. Além disso conseguiríamos reabilitar a moral, assim permitindo que todos os setores trabalhem unidos como as partes de um corpo para o bem de todos!

Stuart: Bom, ainda acho improvável que os mais poderosos fossem fazer assim, você dependeria dos revolucionários serem verdadeiros santos. 

David: Concordo, fora que é meio idealista achar que dá pra implantar uma moral nova em pouco tempo, o povo não esquece suas raízes rápido.

Bento: Você ficaria surpreso com o que se pode fazer com o domínio do Estado. 

David: E você ficaria surpreso com a capacidade de um povo de resistir a isso, basta olhar o fracasso do governo militar em deixar essa população diferente. Não só é difícil fazer um povo mudar suas características como esse país é muito grande, o povo ainda continuaria quase igual. A corrupção que vemos no nosso corporativismo ia continuar. 

Stuart: Concordo, o fracasso da ditadura não é exatamente defesa dessa visão...

Bento: Os militares foram muito incompetentes, principalmente na educação e na cultura, então acho que isso poderia mudar. Não estou falando de um presidente que fica oito anos e tolera oposição, sei que ia demorar para esse povo mudar. 

David: Honestamente, acho que é melhor falarmos disso daqui a pouco,  quando o assunto for a democracia. Sua visão revolucionária é meu problema principal com seu pensamento, então vou me concentrar nela.

Bento: Certo.  Acho que não sobrou nenhuma outra objeção contra esse ponto de vista, então fiquem livres pra atacar a ideia de se aproximar da autarquia.

Henrique: Nesse caso você procura mesmo controlar o livre comercio e deixar o Brasil um pouco mais isolado?

Bento: Exatamente, podemos e devemos fazer assim. Não podemos deixar nossa economia depender dos outros países! Parceiros comerciais podem nos controlar com ameaças de embargo e com isso estrangeiros ditam nossos rumos! Uma crise internacional pode nos arruinar de novo! A única forma de manter nossa soberania e nossa segurança é sermos independentes dos outros! 

Hans: Ora, tudo que vale para um agente econômico vale pra outro, então a ação que é boa para o indivíduo é boa para o país e vice versa. Mas buscar ser semi-independente seria desastroso para um individuo, que teria um padrão de vida muito ruim, então a mesma coisa aconteceria com o país. 

Bento: Não, esse argumento imbecil não funciona. Você pressupõe que o que é verdade para o indivíduo é verdade para a nação, o que é claramente falso. Um homem sozinho dificilmente tem como fazer todas as tarefas necessárias pra vida, enquanto uma nação claramente pode dividir bem o trabalho e assim se manter em pé enquanto acumula capital pra desenvolver tecnologia e industrialização. 

Hans: Olha... Admito que tem essa diferença sim, reconheço que o argumento falhou.

David: Um problema desconsiderado é a reação de outros países, você ia tomar embargos se tentasse agir assim, já que ia prejudicar os nossos parceiros comerciais.

Bento: Bem pensado, mas bastava fazermos isso lentamente e só revelarmos nossas intenções quando já estivéssemos próximos de estar prontos.

David: Provavelmente ia ter embargos na hora que fizessem a revolução anti-democrática, você teria que ser rápido e mudanças econômicas não são rápidas.

Bento: Se fizessem isso, íamos ter quem culpar pelo estrago causado e com isso teríamos um inimigo a mais para utilizar para unir a a nação. 

David: Bom, é um plano coerente com seu pensamento, vou deixar pra atacar tudo junto depois.

Bento: Certo. 

Stuart: Ignorando a reação dos outros países e as mortes e pobreza que tomar embargos iam causar, que é algo importante pra mim, essa medida não tornaria todo mundo mais pobre? 

Henrique: É o que eu ia falar. Se eu compro o produto estrangeiro ao invés de fazer aqui é porque ele é mais eficiente em produzir o que quero do que eu. Ao invés de tentarmos fazer tudo, deveríamos deixar cada país exportar o que faz melhor e importar o que outro faz melhor. Desse jeito, a eficiência reina. Países tem estruturas, culturas e climas diferentes, então é ridículo sugerir que alguns não sejam mais eficientes em produzir certas coisas.  

Bento: É eficiente, não nego isso. Mas o problema é outro: economia não é o único bem social, nossa autonomia, unidade e segurança são tão importantes quanto ter bens. Não vale a pena ter mais eficiência com o livre comércio completo e ser escravo dos capitalistas internacionais porque setores inteiros seus dependem deles. 

Henrique: Mas não precisamos depender deles para sempre, a competição com a indústria internacional forçaria a nossa a se tornar mais eficiente, assim todos ganhariam.

Stuart: Fora que enquanto dependêssemos  dos estrangeiros ao menos teríamos acesso a bens e tecnologias que não teríamos como usar de outra forma, dando mais opções a nós.  

Bento: As indústrias estrangeiras são mais bem equipadas, treinadas e ricas do que as nossas, uma competição irrestrita com elas seria a destruição das nossas. Para podermos competir, o único jeito seria se regulássemos e taxássemos a troca com os estrangeiros, isso ia nos ajudar a ter como desenvolver a indústria com a riqueza ganha.

Stuart: Mas regulando e taxando você ia fazer menos investimentos aparecerem aqui. É claro, nós temos objetivos diferentes, então isso não ia te incomodar tanto. 

Bento: É, temos objetivos bem diferentes. Essa abordagem liberal é meio limitada, eu não olharia só pra economia, e mesmo nela essa visão parece falhar feio em nos deixar competir, tanto é que os ingleses e americanos sempre foram protecionistas ferrenhos antes de serem os maiores.

Stuart: Nossa diferença de valores é bem grande mesmo, como dá pra ver com isso da democracia...

Henrique: Sim. Falando em democracia, seria uma boa falar disso agora, não?

Bento: Se vocês tem problemas com isso, podem falar. 

Pedro: Honestamente? É pura tirania achar que você pode impor sua vontade assim nos outros, seja se escondendo atrás de um partido armado ou de um tal Povo. Mas acho que um apelo a liberdade e a decência não vai ajudar muito agora. Vou deixar pra falar disso depois.

Bento: Certo.

Stuart: Ignorando o aspecto ético, uma sociedade intolerante corre um risco sério de se tornar dogmática. Se isso acontecer, o erro pode ser defendido como verdade absoluta e mesmo a verdade pode ser defendida sem se saber o motivo. Sem tolerância, a verdade é perdida, os intelectos atrofiam e a discussão se transforma em uma briga de vontades. Por isso, a tolerância tem que ser uma virtude celebrada. 

Bento: Bom, então você acha que toda opinião deve ser tratada com respeito?

Stuart: Sim, é o único jeito de não se prender ao dogmatismo completo. 

Bento: O que você tá sugerindo é loucura. Cada povo tem uma determinada lingua, uma determinada história e uma determinada cultura e são todas essas características que o une, de forma que um tipo de preconceito é pressuposto na existência de um povo. Sem essa união mental, a civilização é impossível. 

David: Verdade. A própria tolerância depende da sociedade ter um preconceito contra os intolerantes, que podem ser "agredidos" por lei ou por meios civis. Tente defender totalitarismo para as pessoas normais que você vai ver a tolerância delas... 

Stuart: Você até que tá certo que a tolerância não permite tolerar todos.

David: É claro. Como o Bento falou, toda sociedade tem bases que garantem a sua existência, e, como tudo que é mortal, ela precisa se defender de ataques a essa base.

Bento: Exato, e ai está o problema da democracia. Ao dizer que a opinião mais popular é a "certa", a sociedade democrática não só tolera mas garante inúmeros grupos que não pensam em todos como partes de um todo, mas que só tem lealdade para seus próprios companheiros e que enxergam seus vizinhos como estrangeiros. Democracia é divisão! Democracia é fragmentação! Democracia é destruição!

David: Olhando a situação dos americanos e de alguns europeus, eu entendo o que você está dizendo. Mas será que isso é algo intrinsico a natureza da democracia? Países como a Suiça e a Austrália tem uma forte tradição de liberdade e democracia e não parecem fragmentados.

Henrique: Isso! Esse relativismo que vemos em alguns países não é uma característica essencial da democracia, a democracia pode ser sustentada por uma forte cultura de amor às liberdades e respeito ao individuo. 

Hans: Mas a democracia ainda tem esse problema de, em um lugar tão grande quanto o nosso, ajudar na divisão da sociedade em grupos que se interessam só em roubar os outros com o poder do voto. Se eu me identifico mais com o meu grupo do que os outros do país, vou usar a política para beneficiar meu grupo à custa dos outros. Basta ver o quanto a influência do Estado na vida aumentou com a democracia.

Bento: Exato, esses países são do tamanho de um ovo, então não tem a variedade que temos. Cada estado é quase um país diferente, exigindo um Estado forte para manter a ordem.

Pedro: Ou exigindo o fim do Brasil gigantesco e a criação de vários pequenos países. Esse território virou um por imposição estrangeira e depois continuou um por imposição também, afinal.

Hans: É o que eu ia falar. Descentralizando nós acabamos com esse problema, enfraquecemos o Estado e ainda promovemos competição entre os novos territórios! 

Bento: "Competição?" Tipo fazendo um país ter que ser melhor pra não perder habitantes pros outros?

Hans: Sim, como um livre mercado de países! 

Bento: Hahaha! A imigração de um país pra outro do mesmo continente, ou parte do continente, é razoavelmente fácil e ninguém nunca viu essa competição!

Stuart: É verdade. Tentar deduzir tudo é um erro grande...

Hans: É claro que isso ia acontecer se dividíssemos o Brasil! É como duvidar que dois mais dois é igual a quatro!

Bento: Eu duvido é da sua capacidade de conectar silogismos vazios com a realidade mesmo. Sua ideia só criaria países fracos que não teriam como se manter independentes, especialmente com seu livre comércio maluco que só beneficia os burgueses estrangeiros.

Hans: Ora, mas de qualquer forma o melhor jeito de fazer as pessoas não se dividirem em grupos que brigam pelo controle do Estado é descentralizando.  

Henrique: Ou, nós garantimos que o comando desse país se torne menos centralizado em Brasília, dando assim mais autonomia para os estados.

David: É uma solução bem melhor. Não tem motivo pra acabar com a unidade de séculos assim do nada, acabar com o Brasil é um erro completo. Dar aos estados autonomia seria a melhor opção sim.

Bento: E como evitar que essa liberdade acabe dividindo os estados ainda mais?

David: Divisão em baixa escala é garantida, os estados tem territórios, populações e tradições diferentes e tentar lutar contra isso é loucura. Dando autonomia aos estados, você garante que os problemas de cada um podem ser resolvidos sem apelar pra Brasília, tirando o foco nessa esfera. 

Henrique: É o que eu acho também. Se o povo não precisa competir pelo poder central a união entre os estados é fácil.

David: Isso, e uma união real, sem ser imposta de cima. Um governo autoritário só causa mudanças temporárias, é como tentar educar uma criança com pura violência sem jamais explicar o porquê, como se treina um animal. 

Pedro: Mas mantendo esse poder central você ainda deixa bem possível que alguns grupos influenciem a lei de forma a aumentar o poder do governo federal e tomar controle dele. Mantendo esse país gigantesco você pede pra tudo se centralizar denovo.

David: Mas não tem vários países onde isso não aconteceu?

Pedro: Tem, mas a maioria são pequenos e com populações bem homogêneas. Um exemplo de país enorme e diversificado com um poder central no inicio descentralizado é o dos norte-americanos, que há no mínimo décadas tem uma população que briga entre si enquanto é roubada por uma elite...

David: É, é um exemplo complicado mesmo. Esse é um ponto interessante, vale a pena debater isso, mas uma coisa é certa: autoritarismo não é o jeito de gerar mudanças de verdade.

Bento: Acha que não é possível? Mesmo com a propaganda moderna e o controle da educação?

David: Não preciso achar nada se os exemplos são vários. Autoritarismo na nação gera internamente ressentimento em direção ao Estado, mesmo que no "subconsciente", e externamente gera medo e sabotagem. Com o primeiro grande sinal de fraqueza, talvez causado por outros países, a derrubada desse regime acontece e as ideias dos ditadores viram heresia. Nada muda no fim.

Bento: Está mesmo tão confiante de que não dá pra fazer isso direito?

David: Sim, tenho certeza de que tentar impor algo do tipo é loucura. Na primeira chance, tudo acaba e a democracia volta. Quer dizer, você lembra de algum exemplo onde tudo acabou diferente?

Bento: Bom, acho que não. Tiveram alguns onde boas mudanças aconteceram até aqui como o Getúlio, mas as coisas sempre voltaram ao normal.

David: Se ninguém fez isso funcionar nem mesmo em tempos onde a democracia não era um dogma entre os países grandes, como eu vou acreditar que isso vai funcionar hoje? Me parece tão prudente quanto acreditar em marxistas.

Bento: Bom, admito que não pensei direito nessa questão e tentei deduzir demais. Derrubar a democracia violentamente é sim uma má ideia, realmente errei.

Pedro: Estou feliz e surpreso agora, não imaginava que argumentos pudessem funcionar com autoritários.

Stuart: Digo o mesmo, não contava com isso.

Bento: Parece que funcionam sim as vezes. Nem todos somos crianças querendo incomodar ou perdedores frustrados.

Henrique: Então é isso, acho que o tema anti-democrático já rendeu o suficiente.

David: Sim, a ideia de revolução autoritária já não vai ser defendida hoje. 

Stuart: Justo, esse sistema claramente é falho.

Hans: Especialmente porque esse autoritarismo se auto-destrói, já que comete dois erros que pedem a volta da democracia: Primeiro, não tem qualquer forma boa de sucessão, o líder morre e o partido que improvise. Segundo, com sua ideia de partido, mantém a noção republicana do que é o Estado: um tipo de administrador impessoal. Se for pra derrubar a democracia, é melhor restaurar a monarquia mesmo, a sucessão é obvia e torna o Estado um ser de carne e osso, é a forma de governo menos ruim.

Pedro: Ai não dá! Como alguém que se chama de anarquista pode sequer sugerir que um tirano é uma ideia aceitável?

Stuart: Soa estranho mesmo essa ideia de que colocar de volta uma instituição tão retrógrada pode ser boa. 

Hans: A monarquia, de todas as formas de Estado, é a que mais se aproxima da ordem natural, ou duma sociedade onde a propriedade privada é respeitada, não exagerem.

Pedro: A monarquia é a opressão por um tirano, a democracia é a opressão pela multidão, e a oligarquia é a opressão pela "ordem natural". Nada disso é liberdade...

Hans: Pois espera um pouco! Em breve mostro que a liberdade e a propriedade privada sao irmãs. 

Pedro: Não se tenta provar que dois é maior do que cinco, mas pode tentar depois.

Hans: E eu vou!

Bento: Você levantou bons pontos, mas não confio em monarcas. O tempo deles já passou, as coisas são outras hoje.

Henrique: Também não confio, é muito perigoso dar tanto poder prum individuo. Mesmo um monarca não-absolutista pode fazer bastante e eu não vejo com bons olhos um sistema onde dependemos da boa vontade de um cara só.

Hans: Não seria pior do que hoje, já que um monarca é treinado para a função, então no mínimo tem preparo. Já na democracia é eleito não quem é competente, mas quem consegue voto. Fora que o monarca fica a vida toda no poder e passa pros filhos, então tem mais incentivo para pensar no longo prazo que alguém que não fica nem dez anos.

Henrique: Mas ai você olha os sujeitos como se fossem robôs sem ideias, desejos, cultura ou passado que foram programados pra ter o máximo de bens. Na vida real muitos monarcas não agiram ou agem direito e muitos chefes de nações democráticas agiram ou agem direito. Apesar das vantagens da monarquia, a dificuldade de limitar o poder do rei e a falta de um processo seletivo são falhas enormes. 

David: Olha, é verdade. O pior dessa forma a priori de pensar típica de "iluminados" é a falta de semelhança com o mundo real. A forma de governo monárquica tem vantagens mas tem defeitos também, nenhuma forma de governo é perfeita, depende da situação e história do povo. Democracia, aristocracia, monarquia, fica pra nação usar o que funcionar melhor. 

Hans: Mas ao menos você concorda que é melhor do que só dar o poder todo prum partido, né?

David: Isso sim. Achar que dá pra reformular a sociedade inteira da noite para o dia é ridículo.

Bento: Já que a conversa sobre minhas ideias acabou, tá na hora de escolher outro pra falar, não é?

Stuart: Isso, já pode escolher o próximo.

Bento: David, pode ir. Vamos ver o que você tem, quem sabe eu não lhe derrubo as ideias também...

David: Talvez, hehe. Eu só faria mudanças simples: remover burocracias, tornar o sistema tributário mais progressivo e simples, praticar desenvolvimetismo controlado, diminuir os gastos do Estado, focar os gastos em saúde, educação e segurança etc. Só fazer o que os grandes fizeram.

Stuart: Bom, melhoraria o país bastante.

David: Sim, e melhorar esse lugar já seria uma vitória. 

Pedro: Você não ia fazer nada novo? Não acha que poderia gerar uma sociedade melhor que as atuais?

David: Isso. Como eu disse antes, a melhor direção é a história, é olhar o que funciona. Não tenho confiança em mudanças grandes.

Pedro: A prudência é algo ótimo, mas toda ideia bem sucedida era pouco confiável antes de dar certo. Não acha que você também poderia fazer algo melhor surgir? Esse sistema precisa mudar muito. 

David: Precisa sim, mas tentar criar uma utopia sempre falhou historicamente, não vejo como sonhar demais possa ser uma boa ideia. 

Pedro: Então você prefere dar passinhos calculados em direção ao progresso na sua frente quando pode correr? 

David: Se pra chegar a ele tenho que atravessar um campo minado, sim...

Pedro: Que exagero. Você devia confiar mais na capacidade humana de acertar!

Henrique: Concordo, devemos ser mais ousados, as grandes mudanças só acontecem assim.

Hans: Isso! A capacidade humana de racionalmente descobrir como melhorar a vida já mostrou serviço várias e várias vezes.  

David: Vocês acham que podem deduzir a perfeição? 

Hans: O que nos impede?

David: Bom, Pense que no futuro as coisas estão tão boas quanto nos sonhos dos nerds de ficção cientifica. A humanidade resolveu todos os problemas e a tecnologia transformou todos em deuses, tudo está bem.

Hans: Certo.

David: Agora imagine que um sujeito desse futuro quer ouvir uma apresentação específica do Mozart, o que o leva a criar um universo exatamente igual ao nosso, partícula por partícula, e então cochilar até a história desse universo chegar nessa apresentação. Até aqui dá pra imaginar?

Hans: Dá, mesmo sendo bem bizarro.

Henrique: Não era mais fácil ele voltar no tempo ou coisa assim?

Stuart: Verdade, ia ser mais rápido e fácil.

David: Talvez seja impossível ou proibido, ou ele só goste de criar universos. Não é importante.

Henrique: Entendi.

Bento: Onde você quer chegar?

David: Enfim, digamos que assim que o sujeito dormiu, um amigo entrou e viu o universo antes do seu Big Bang, o que lhe deu vontade de mexer em...

Hans: Espera, como ele não acordou? Alguém capaz de conhecer perfeitamente as condições iniciais do universo deve conseguir sentir alguém do seu lado.

Stuart: O sujeito pode ter ido dormir em outra dimensão onde o tempo passa mais rápido, duvido que ele fosse perder bilhões de anos da vida social pra ouvir música.   

Hans: Mas o tempo ainda tem sentido pra um ser nesse nível?

Stuart: É uma boa pergun...

Pedro: Não é não! Dá pra irmos pro ponto disso?

Stuart: É acho que é melhor deixar pra outro dia mesmo esse assunto.

Hans: Pensando bem, verdade.

David: Obrigado! O amigo nem mexeu tanto, ele apenas apagou algumas partículas, criou outras, mudou algumas de lugar etc. Foram mudanças simples mas que mudaram totalmente a estrutura desse universo. Quando o primeiro sujeito acordar, ele vai ver a cena que queria?

Hans: Não, com as mudanças será algo bem diferente. 

Stuart: Verdade, mudanças pequenas nesse estado inicial iam mudar tudo lá na frente.

David: Então mesmo um ser com uma mente muito superior a nossa poderia se enganar totalmente por errar em alguns detalhes?

Hans: Sim, um único detalhe importante muda tudo.

David: Exatamente. Nesse caso, como confiar que vocês vão captar todos os detalhes necessários pra remodelar a sociedade direito? Como acreditar que um sujeito sentado numa cadeira vai deduzir a perfeição?

Bento: Verdade! O racionalismo político não é capaz de resolver nada sozinho...

Hans: Então você acha impossível alguém saber o que fazer via dedução?

David: Tenho certeza, o seu método a priori, "estudando a ação humana", não alcança a realidade completamente. 

Stuart: Sim. Esse método lida apenas com agentes atomizados cujo interesse é ter mais bens materiais. Isso negligencia tantas partes da realidade social que não dá pra levar a sério alguém que usa exclusivamente isso...   

David: Exatamente. O que nos ensina é olhar o que funciona mesmo. O que não foi testado não é confiável.

Hans: Se esse método é tão falho, como a liberdade econômica trouxe tanto bem?

David: Seu método pega direito parte da realidade, então a vida real reflete em parte as conclusões tiradas dele. Vou dar um exemplo: pode me resumir a tragédia dos comuns?

Hans: Fácil. Quando um recurso valioso não é propriedade de ninguém, as pessoas tendem a ficar com medo de outros usarem tudo antes delas, então todos usam o máximo que podem do recurso e com isso ele se esgota. Isso é uma boa amostra da necessidade da propriedade privada, já que se uma porção é minha só eu uso, e assim, sem medo de pegarem tudo, posso usar sem esgotar.

David: Sim, já vi tipos defenderem a necessidade da propriedade privada em tudo assim, graças a essa ideia.

Pedro: Uma ideia ridícula! Pastos, lagos, florestas e tantos outros recursos em comum foram bem administrados por vários e vários grupos durante a história sem a necessidade de propriedade privada! 

Hans: Mas a tragédia é uma dedução que refuta a ideia de que a falta de propriedade privada é melhor do ter ela. Esses grupos administraram APESAR de não terem propriedade, não por não terem.

Pedro: Essa "dedução" pressupõe que todos os agentes são egoístas atomizados incapazes de se organizar e que ganhariam ao pegaram mais do recurso pra vender mais no mercado ou coisa assim.. Nenhum dos dois pressupostos é verdade pra grande maioria das pessoas fora de uma sociedade capitalista, então não, essa "dedução" não nos dá nenhuma informação necessária e imutável. 

Hans: Então a dedução tá errada?

Pedro: É claro. Ela erra ao considerar que o individualismo egoísta e a importância do mercado, coisas modernas, são eternos e sua "previsão" erra em um monte de exemplos. A tragédia real é que algo que falha na teoria e na prática é levado a sério. 

David: É o que eu ia dizer. Esse método ignora muitas coisas importantes. Você pode fazer o silogismo certinho, se as premissas são falsas o argumento falha.

Stuart: Tentei dizer isso antes pra ele. Querer deduzir tudo assim sem olhar pra realidade é loucura, você só vai produzir um formalismo lógico inútil.

Pedro: Bem isso mesmo, temos que olhar pro mundo sim. 

Hans: Olhando assim, acho que entendo o problema...

David: Bom que viu a fraqueza desse método: só produzir resultados inúteis. Confiar em algo assim é loucura, sempre vai faltar algum detalhe!

Henrique: Isso é exagero. Não temos que só repetir o que vimos antes, mas podemos analisar o que acontece e disso tirar relações de causa e efeito. Não é perfeito, mas nos ajuda a saber o que fazer. 

Pedro: Sim. Não dá pra deduzir a perfeição, mas não querer pensar por causa disso é idiotice, esse mundo pode mudar e podemos descobrir como. 

Stuart: Penso assim também. O fracasso da dedução pra achar uma sociedade melhor não quer dizer que tudo fracasse.

David: Mas como saber que você vai mudar pra melhor ou pra pior? Quantos fatores importantes você pode esquecer? Quantas coisas uteis parecem inúteis? Não confio em ter ideais, eles tem muita chance de serem falsos...

Pedro: Ter esse medo de errar já demonstra que existe algo como acerto e algo como erro. Se temos padrões temos um ideal. 

Henrique: Verdade. Se as pessoas estão dirigindo em direção a ponta de um penhasco, você vai dizer pra elas irem pra outro lugar, não pra elas dirigirem mais devagar. Prudência é bom, mas podemos ter um pouco de ousadia.

David: É verdade que existem sociedades melhores do que outras. Mas será que inovar é uma boa ideia?

Henrique: Podemos olhar os erros e acertos e com isso aprender. Assim podemos, mesmo que devagar, ver o que fazer.

Pedro: Sim! Podemos mudar as coisas pra melhor. Não é tão obvio como, mas é possível.

Bento: Se tem uma coisa que a história diz é o que não fazer mesmo. Concordo, as coisas podem mudar, com cuidado.

David: Acho que entendi, ceticismo político não é tão necessário assim. Nesse caso, inovar com prudência é uma opção sim. Bom, acho que deu pra concordar nisso.

Henrique: O nível de prudência deve ser um ponto de discussão, mas todos então concordam que prudência e inovação devem andar juntas.

Pedro: Justo.

Stuart: Faz sentido.

Hans: Não faz! O que devemos fazer é obvio...

David: Nesse caso, pode falar. Já foi minha vez de defender meu ponto de vista. Você pode dizer o seu.

Hans: Tudo bem. Vocês vão ver o que é uma sociedade ética de verdade!

Stuart: Já que o método a priori já era, vai tentar argumentar pro seu anarquismo pela ética de novo? 

Hans: Sim! O que temos que fazer pra melhorar o Brasil é acabar com o país Brasil! O Estado é uma quadrilha e tem que sumir!

Bento: Você quer destruir totalmente o Estado? Tá louco?

Hans: É claro! A propriedade privada é um direito natural inviolável! O Estado é ruim por si só já que precisa roubar nossos bens pra existir, então é o único jeito de ter uma sociedade boa. 

Pedro: Você quer abolir o Estado e manter o capitalismo? 

Hans: Sim. Não tem qualquer erro nisso, ao contrário, é bom eticamente e utilitariamente. 

Henrique: O excesso de ação estatal é um problema sério pro país sim, mas acabar com o Estado não é uma boa ideia.

Hans: Se diminuir é bom, imagina abolir!

Henrique: Não funciona assim não...

Hans: Claro que é! Conseguem ver algo que a propriedade e o mercado não resolvam?

David: Monopólios naturais, fraude, poluição, free riding, assimetria de informação, exploração, abandono dos não-trabalhadores, falta de investimento em inovação e pesquisa científica e, claro, falta de um poder capaz de garantir a paz. Sério, anarquismo é uma piada.

Bento: Fora que algumas cidades privadas ou coisas do tipo não teriam como se defender de Estados envolta delas. O governo brasileiro derrubou várias revoltas sem ter acesso as tecnologias de um exército moderno, afinal. Supor que todos os Estados envolta vão ignorar essa oportunidade de se expandir e ganhar recursos naturais é ser moleque...

Pedro: Não vejo problema na falta de um Estado, ao contrário, mas o capitalista tem a propriedade de um bem que deixa pra outros usarem diretamente, como fabricas e casas pra alugar. Sem um poder reconhecido por todos lhe dando esse "direito" e o protegendo com armas, como o capitalista médio fará pra não perder os bens da forma que JÁ acontece as vezes? Capitalismo precisa de um Estado.

Stuart: É o que eu vivo dizendo! Essa ideia simplesmente não faz sentido! As defesas desse ponto de vista geralmente partem desse método a priori fajuto, são pseudo-defesas e só.

Hans: Mesmo que seja assim, a propriedade privada só não é violada se o Estado não existe, então temos que acabar com ele e começar a ordem natural logo! Só assim seremos livres!

Stuart: E lá vamos nós...

 Pedro: Onde isso é liberdade? O capitalismo dá poder pra poucos e nos impede de decidir o que fazemos com nossas habilidades, já que poucos são chefes. Sua ética não nos protege da tirania! Nem mesmo da estatal!

Hans: Quanto comunismo! É claro que a liberdade vem da propriedade! E como a ética de autopropriedade não protege do Estado?

Pedro: Eu nem sou comunista! Embora isso fique pra depois. A questão é que você não pode recusar um Estado a priori com sua ética! É uma tirania que ainda pode aceitar...

Henrique: Também acho que essa ética não vai tão longe, mas agora fiquei curioso!

Bento: Também quero ver. Esses "defensores da liberdade" são irritantes demais, pode ser útil ouvir isso.

Stuart: Pode mesmo.

David: Também tô interessado. Conta ai, Pedro, o problema.

Hans: Eu que quero ouvir. Como assim na minha ética o Estado não é injusto a priori?

Pedro: Nos diga o porquê dele ser que eu mostro.

Hans: Eu tenho o direito da autopropriedade, posso fazer oque quiser com meu corpo e meus bens. O Estado moderno consiste em uma instituição com o monopólio da força em um local, sendo totalmente soberano em "sua" área. Como essa instituição pode decidir tudo que acontece numa área sem ferir os direitos dos outros? De onde vem essa autoridade?

 Pedro: Suponha que derrubamos o Estado. Agora, eu posso ter propriedade absoluta em um território que é meu, né? Só entra quem eu quero e as minhas regras são lei nesse local, né?

Hans: Exatamente! Com o fim do Estado, cada individuo é o rei de seu próprio castelo. Como isso não é liberdade?

Pedro: Então se eu comprar um terreno grande e alugar pra outras pessoas eu decido as regras e cobro as taxas que quiser? Eu sou o dono absoluto do condomínio, né? 

Hans: Sim. Você decide as regras que quiser, contanto que não impeça os inquilinos que não gostam de sairem.  Contanto que as pessoas escolham viver assim e tenham o direito de sair, está tudo bem.

Pedro: E dentro do meu condomínio eu poderia ser aquele que resolve os conflitos, que garante a lei e a ordem e que tem o poder armado? No meu território eu poderia barrar agências de segurança independentes e dar o monopólio da força para eu e meus subordinados?

Hans: Claro que sim. Seria estranho pra mim, mas talvez muitos achassem bom. A ordem natural, o verdadeiro capitalismo, te permite viver com os iguais a você em liberdade!

Pedro: E poderia eu só permitir um único tribunal privado dentro do meu território que é ligado a agência de segurança? 

Hans: Sem problema nenhum.

Pedro: E já que eu posso fazer as regras, eu poderia dar a propriedade do condomínio para um grupo de pessoas ou transformar o local em uma pessoa jurídica que tem a propriedade?

Hans: Pode sim.

Pedro: E eu poderia fazer todos esses serviços não serem pagos por quem os usa mas pagos por taxas pagas por todos os inquilinos?

Hans: Sim. Algumas pessoas preferem assim por acharem que é gratis, haha. Acredita?

Pedro: Sim, hehe. Falando em acreditar, você gostaria de um resumo do que vimos até aqui?

Hans: Claro. 

Pedro: Você defende que o Estado, ao se declarar o dono de uma área, viola nossos direitos. Ao se declarar o soberano que decide as leis, controla o uso da força e cobra as taxas que quiser, o Estado viola a autopropriedade, não é?

Hans: Exatamente isso.

Pedro: E a sua solução é abolir o Estado e gerar a "ordem natural", onde cada individuo com muito dinheiro pode comprar uma área e... se declarar o soberano que decide as leis, controla o uso da força e cobra as taxas que quiser? A sua ética rejeita o Estado em favor de outros Estados menores?

Bento: Hahahaha! 

Stuart: Nunca pensei nesse ponto, não faz muito sentido mesmo.

David: Verdade! Agora eu quero ver!

Henrique: É, concordo que propriedade privada e anarquia não combinam.

Pedro: Exatamente! É uma piada dizer que se apoia o anarquismo, o fim da hierarquia, e ai apoiar o capitalismo, que deixa poucos indivíduos controlarem os bens de todos assim!

Hans: Mas, veja bem, o negócio é que o condomínio é voluntário e o Estado não! Eu não tenho que pagar o condomínio mas tenho que pagar o imposto!

Pedro: Se você morar no condomínio igual mora no Estado vai ter que pagar do mesmo jeito que paga hoje.    

Hans: Mas eu escolho morar no condomínio! Eu escolhi morar aqui?

Pedro: Se seus país tivessem ido morar no condomínio antes de você nascer você teria que seguir as regras dele igual acontece no Estado.  

Hans: Mas o dono do condomínio é dono legítimo da terra e o Estado não é!

Pedro: Talvez todo Estado moderno não tenha surgido por meios que você aprovaria, não importa! A questão é que não existe nenhuma diferença essencial entre a relação de um Estado para seus cidadãos e a relação de um locador para seus inquilinos ou e a relação de um capitalista para seus empregados. Em todos esses casos alguém se apropria de algo necessário para a vida querendo lucrar com o trabalho de outros! É tudo tirania!

Hans: Bom, não é bem assim, tem algo mais, sua analise ignora...

Pedro: O que falta nessa conversa é você decidir se quer apoiar a liberdade ou a tirania...

David: É, nessa "ordem natural" um Estado provavelmente ainda seria o comum, só muda o nome. É meio redundante então.

Henrique: Realmente.

Stuart: Isso foi bem experto, uma contradição tão grande e eu nunca vi. Ia ter me ajudado, hahahaha.

Pedro: Hehe. Imagino, esse tipo de "anarquista" é bem irritante. 

Hans: Que tal então você dizer o que é uma sociedade boa? Nos impressione.

David: Boa! Fiquei interessado em ver o que você sugere, Pedro.

Bento: Eu até que também, só pra ver como alguém defende essa igualdade doida sem virar comuna.

Pedro: Certo, vou tentar sugerir como ter uma sociedade que preste.

Hans: Boa sorte.

Pedro: Não preciso, acho. Eu diria pra abolir totalmente o Estado, com as pessoas se unindo em cidades menores depois disso. As regras das comunidades seriam democráticas, não legais, algo que só funciona com grupos menores que metrópoles. 

Stuart: Seria então como o que o Hans sugeriu?

Pedro: Não. Como falei antes, os capitalistas e donos de propriedades não iam conseguir proteger suas "propriedades" muito bem sem o Estado lhes dando o direito. Vejo então as propriedades sendo mais bem distribuídas. Ia ter bem menos gente vivendo de aluguel e bem menos gente assalariada. Com os capitalistas sumindo e os meios de produção bem espalhados, vejo os trabalhadores se unindo para trabalhar com todos recebendo o que produzem e com a produção sendo mais local.

David: Bom, parece mais realista que todos obedecerem direitos de propriedade sem o Estado os reconhecendo. Sem o Estado, arranjar armas seria fácil, proteger a propriedade seria um custo e tanto...

Stuart: Verdade. Sem uma ordem legal no território dando o direito ao proprietário, não ia dar pra manter a propriedade que você nunca usa. Os interessados tomariam controle sem problemas, como vemos as vezes. Mas ainda vejo problemas sérios nessa ideia de sociedade anárquica.

Pedro: Podem dizer os problemas, não vejo nenhum.

Henrique: Sem o Estado, como centralizar capital o bastante pra ter pesquisas tecnocientificas? 

Bento: É verdade! Sem financiar pesquisas, a tecnologia ia estagnar. Não ter tecnologia de ponta pra oferecer é pedir pra ter que importar tudo de outros lugares. Suponho que um anarquista não ia querer depender de Estados.

Stuart: Verdade. Só ter padarias e agricultura não basta pra ser um local com importância na economia. Fora a perda de uma medicina melhor.

Pedro: Como assim?

Stuart: Pesquisa tecnocientífica não é algo provável de existir sem o Estado. Não é exatamente rentável ficar anos financiando uma pesquisa quando você não sabe se ela vai gerar qualquer aplicação prática.

David: Fora que é difícil de dizer se seria viável juntar recursos o suficiente para inicio de conversa. Pequenas comunidades talvez nem tivessem o capital necessário. Não é a toa que existe uma ligação histórica entre o rápido avanço tecnológico dos últimos séculos e o Estado moderno.

Pedro: Bom, talvez algumas comunidades pudessem ter mais interesse em tecnologia e se unirem para custear a pesquisa. Uma pessoa normal teria mais dinheiro sobrando e as comunidades seriam mais unidas, afinal.

Stuart: Mesmo assim, a pesquisa ocorreria então bem menos, ia retardar bastante o avanço tecnológico. Fora, de novo, a ciência.

Pedro: Admito que é verdade, mas acho que valeria a pena abrir mão disso para acabar com a pobreza e opressão, é questão de prioridades. Algum outro problema?

David: Como impedir a violência de crescer sem Estado?

Pedro: Bom, as comunidades seriam bem menores e a pobreza seria menor também, então acho que daria pra ter um regulamento interno razoavelmente bom.

David: Não, nem perguntei de violência interna mas externa. Como não perder esses recursos naturais pra Estados?

Pedro: Os nossos terrenos são variados, o país é enorme e o porte de arma seria fácil de arranjar. Provavelmente o homem comum seria mais preparado pro combate, sem poder depender de policia ou exército. Fora que regiões diferentes poderiam se ajudar em combate.

Bento: Se ajudar a morrer? Desde o inicio do mundo até hoje impérios conquistaram pequenos povos, Estados venceram anarquias...

Pedro: Mesmo que seja assim, essas comunidades costumam dar trabalho, como vimos no século passado. Seria bem desvantajoso, no mínimo, conquistarem esses lugares.

Bento: Bom, mesmo sendo desvantajoso as vezes os grandes fazem isso. Motivações econômicas ou ideológicas sempre atraíram conquistadores.

David: Concordo, rezar pra ninguém querer te atacar não é muito inteligente, não dá pra apostar em algo assim. Algum tipo de classe guerreira é importante num contexto onde você não está cercado de tribos.

Stuart: Fora a questão já abordada da tecnologia e avanço científico. Comunidades menores parecem boas, mas sem o Estado duvido que sejamos muito mais do que tribos...

Pedro: De qualquer forma, acho que poderia funcionar. Tem que funcionar, nada mais parece justo...

Stuart: E qual o motivo desse tipo de sociedade ser obrigatória?

Pedro: Bom, uma ideia muito comum é que opressão é ruim, e é bom que todos concordam com isso.

Bento: Depende do que se chama de opressão...

Pedro: Bom, não vou debater o que é certo com quem sugeriu fuzilar gente e tomar o país... 

Bento: É uma discussão inútil mesmo.

Pedro: Enfim, o problema ignorado é que muitas das coisas "normais" são opressivas. Hans estava certo em ver que o Estado é naturalmente opressor, mas ele não percebeu que as relações econômicas capitalistas também são ruins. O q..

Hans: Viu só! Falei que era comuna!

Bento: De novo isso...

Pedro: Eu acho que o livre mercado é uma coisa boa, o trabalhador merece o que produz. Onde que ser anti-capitalista é ser comunista?

Hans: Capitalismo é livre mercado, então você é comunista sim, já que o contrário de livre mercado é planejamento estatal ou comunismo.

Bento: No comunismo nem tem Estado...

Pedro: Exato, uma economia planificada totalmente comandada pelo Estado é no máximo um tipo de socialismo mesmo. A sua definição de capitalismo é muito vaga, a economia diz respeito à produção e alocação de riqueza e você só fala de uma parte.  Você acha que qualquer sociedade onde tiver livre troca tem capitalismo?

Hans: Sim.

Pedro: Então se dois grupos comunistas trocarem riquezas na verdade eles são capitalistas?

Hans: Claro que não.

Pedro: Então a sua definição falhou...

Henrique: Pegando a ideia de considerar a produção e alocação de riqueza, acho que todo mundo vê o capitalismo como um sistema económico onde a produção é via trabalho assalariado e a alocação é via livre mercado. Parece bom?

Pedro: Pensei em algo assim.

Stuart: É razoável sim. 

David: Se lembrarmos que isso é um tipo ideal, concordo. Existem diferentes tipos como anarcocapitalismo, minarquismo, capitalismo liberal, weberiano etc.

Bento: Faz sentido.

Hans: Digamos que eu aceite essa definição, como o capitalismo seria ruim?

Pedro: A relação econômica normal no capitalismo não é a de um sujeito que é dono de algum meio de produção e de outro que, não sendo dono do meio, trabalha diretamente em troca de um salário?

Hans: E qual o problema nisso? O chefe ganha com o produzido com a sua propriedade e o contratado ganha um salário no fim do mês. Alguém perde algo nisso?

Pedro: Pra te ajudar a ver a resposta, eu lhe pergunto: por que o contratado se assalariou? Ele não poderia trabalhar diretamente em algum meio de produção?

Hans: Se ele escolheu trabalhar, não deve ter algo assim. Pra poder virar o próprio chefe ia precisar arranjar algo útil, pra conseguir gerar valor. 

Pedro: Então ele ia precisar arranjar algo material pra poder gerar valor, certo. Ele teria como arranjar esse meio de produção sem antes trabalhar pros outros e juntar dinheiro? 

Hans: Acho difícil pra maioria das pessoas.

Pedro: Então pra ser o próprio chefe o sujeito médio primeiro ia precisar trabalhar pros outros?

Hans: Isso ai.

Pedro: Veja, muitos governos cobram imposto sobre o salário, sobre lucros, sobre dividendos etc. Acha que é um tipo de opressão?

Hans: É claro que sim! O sujeito trabalha e dai vem o Estado e surrupia uma parte do nada porque diz que é o "dono" do produzido, piada né?

Stuart: Fiquem olhando...

Pedro: Não fala não. Enfim, mas esse imposto não é voluntário, já que você só paga se trabalhar? Você não pode deixar de trabalhar?

Hans: Claro que não! Trabalhar ou não não é escolha! Quem não trabalha não produz, então não realiza trocas e morre de fome sem nada!

Bento: Ou ao menos devia ser assim com vagabundo...

Hans: Verdade! Só comuna vagabundo que acha que os outros tem que trabalhar pra eles de graça!

Pedro: Vocês tão certos, trabalhar não é escolha e nem devia ser. Quem puder tem que trabalhar. Mas o imposto sobre trabalho não poderia ser justificado pelo Estado oferecer ajudas pro trabalhador como segurança, dados e direitos trabalhistas? 

Hans: Não! Você não pode chegar e cancelar essa "troca", então ela não é voluntária. Se milicianos "protegerem" ou "auxiliarem" você durante o trabalho, ainda é opressivo!

Pedro: Mas a troca não é voluntária já que você pode sair do país?

Hans: Não, eu só ia parar em outro Estado. Fora que mesmo que fosse não justificaria esse confisco do que eu fiz!

Pedro: Então o imposto não é voluntário porque você tem que trabalhar e o Estado botar a mão no que você produz não se justifica por ele te oferecer ajuda em troca e nem por você poder ir pra outro Estado?

Hans: Isso é pura verdade!

Pedro: Se você obrigatoriamente tem que trabalhar e vimos que só poucos não tem que trabalhar como assalariado, segue que o trabalho assalariado na prática É obrigatório. E o capitalista botar a mão no que você produz não se justifica por ele te oferecer ajuda em troca nem por você poder ir pra outro Estado! 

Stuart: Sabia que ia ser algo assim!

David: Mas também né, tava na cara.

Pedro: Só queria mostrar que a ideia de que o Estado e o capitalista são diferentes é louca, já que o Hans não viu antes. Nenhum anarquista pode acreditar em propriedade privada.

Bento: Que seja! Essas ideologias anarquistas são fundamentalmente coisas de gente fraca. A ficção de conflitos e opressão serem "errados" surge de gente que não se dá bem com essas coisas...

Pedro: De novo, ignorado. Conseguem ver que a relação entre patrão e assalariado é tão justa como a entre Estado e cidadão?

David: O que significa que se uma é válida a outra também. 

Pedro: Exatamente isso. Como a autoridade estatal não é legitima, nem a do capitalista é.

Hans: Você não quer nenhuma propriedade privada? Vai me dizer que não é um comunista?

Pedro: Você tá certo que os comunistas e eu não queremos propriedade privada, é verdade. Mas eu concordar com eles em algo não me torna comunista.

Hans: Mas sem propriedade privada tudo é público! Como podemos ser livres se tudo é do Estado?

David: Me intrometendo rápido: ser público não significa ser do Estado, mas sim ser disponível pra todos. Muitos territórios na Era Medieval eram usados por todos sem existir um dono, por exemplo.

Pedro: Exatamente. A propriedade pública não é a única possível pra mim. A propriedade pessoal ou posse, é aquela que o individuo realmente usa, sua casa, seu celular etc, até um meio de produção de um autônomo. Já a propriedade privada é aquela que não é usada efetivamente pelo individuo, como uma segunda casa ou uma fábrica.

Bento: Então você quer acabar com aluguel e assalariamento deixando os meios de produção e bens imóveis serem propriedade de quem os usa? Já ouvi falar disso mas nunca vi defenderem realmente. A esquerda odeia a ideia de livre mercado, afinal.

Pedro: Exatamente. Realmente é uma visão rara mas acho certa. É que eu acredito que o individuo merece receber o que seu trabalho gera, então não gosto da ideia de não ter um sistema de preços e troca voluntária. Não acho que ninguém deva ser forçado a trabalhar pros outros, embora provavelmente iam ter comunidades comunistas.

Bento: Entendo. 

Stuart: Mantendo o mercado você escapa de algumas objeções comuns ao comunismo, mas ainda não confio na ideia de não ter Estado.

Pedro: Sei que tem umas incertezas, mas deve ter algum jeito de viver respeitando os direitos naturais.

Hans: Mas como diferenciar propriedade pessoal e privada? Você podia roubar muito inocente.

Pedro: Não existe uma regra que serve pra absolutamente todos os casos, Mas provavelmente ia ser decidido com base no uso e o reconhecimento dado pela comunidade. Se você nunca usa uma casa e ninguém da vizinhança dela te conhece a casa não é sua, ponto. 

Hans: Mas a casa era propriedade! Como assim eu deixo de ter propriedade por ter deixado um tempo sem usar?

Pedro: Recursos são escassos e necessários pra vida. Alguém realmente merece morar na rua porque um idiota quer ter duas casas?

Hans: E qual o problema? Se você não roubou o homem então não há nada de errado, ele não tinha direito à casa.

Pedro: Se eu sou um bilionário que te odeia e compro vários metros de propriedade envolta da sua casa, de modo que só dá pra passar pisando no que é meu, e estabeleço que pra pisar na minha terra e sair você teria que pagar um trilhão de reais. O que acontece com você?

Henrique: Interessante, eu ia usar esse argumento depois.

Pedro: Legal saber,  é uma contradição importante nessa tal "ordem natural". Enfim, como isso ia terminar?  

Hans: Eu não tenho esse dinheiro, então vou ficar isolado do mundo e morrer de fome, acho.

Stuart: Não daria pra alguém te dar a comida?

David: O Pedro poderia cobrar o mesmo preço pra esse alguém poder pisar na terra e entregar a comida, então não. 

Pedro: É isso mesmo, ou paga ou não pisa na terra. Nesse caso, eu teoricamente não cometo injustiça porque ninguém tem o direito de pisar na minha terra, certo?

Hans: De certa forma sim.

Pedro: Mas mesmo que nenhuma propriedade seja violada você não acaba morto porque eu te privei do contato com o mundo?

Hans: Acabo morto por causa de você sim.

Pedro: Nesse caso, eu não te agredi de certa forma?

Hans: Bem, sim, agrediu.

Pedro: Ótimo, então você concorda que privar alguém indiretamente do necessário para a vida por capricho é agressão. Como sabemos que você não precisa de uma bem que não usa e que mantendo a propriedade dele prejudica outros segue que só existe propriedade se você efetivamente usa a coisa. 

Hans: Por isso só a tal propriedade pessoal é boa? 

Pedro: Isso. Acha algum erro nisso?

Hans: Tenho certeza que tem algum...

David: É um argumento interessante. Consigo ver de onde vem a noção de que a propriedade privada é usada para se aproveitar dos outros. Mas embora uma sociedade com melhor distribuição de propriedade seja provavelmente melhor não segue que toda forma de propriedade privada seja opressiva.

Pedro: Como não? Precisamos trabalhar para ter acesso aos bens, então quando o capitalista se apropria do meio de produção para só me deixar trabalhar em troca de um salário ele necessariamente usa de coerção contra mim. Isso é claro pois minhas escolhas são trabalhar para ele, e assim perder a maior parte do valor que gero, ou morrer.

Bento: Indo por essa lógica, então é necessariamente errado vender comida ou outros bens e serviços essenciais. Agora sim ouço um comunista...

 David: Pensei em algo assim também.

Stuart: Não entendi o argumento.

Pedro: Também não entendi isso, podem explicar como sou comunista?

Bento: Claro, primeiro pode explicar porque comunismo é errado?

Pedro: Um trabalhador não é obrigado a trabalhar para os outros sem motivo. Se eu planto maças, por exemplo, não sou obrigado a dar elas aos outros de graça,  pois dizer que sou é dizer que sou obrigado a trabalhar para satisfazer caprichos alheios, o que é escravidão. Se um grupo quer ser comunista não há problema, mas isso nunca deve ser imposto.

Bento: Mas se os outros não comem eles morrem, então você deveria sim dar as maças.   

Pedro: Se eles comem minhas maças ou morrem então eu tenho que dar elas sim. Mas se não é caso de vida ou morte eu posso muito bem exigir uma compensação pelo meu trabalho, assim vendendo as maças.

Bento: Então alguém só pode ter direito ao produzido por você se for caso de vida ou morte?

Pedro: Exatamente.

Bento: E se for algo que você não produziu mas ganhou ou comprou?

Pedro: Mesma coisa. Eu não fiz essa blusa mas ela é minha, então eu só teria que te dar ela de graça se você estivesse literalmente morrendo de frio. Se não é um caso de vida ou morte eu posso te vender se quiser.

Bento: Certo. Então é lícito em algumas situações lucrar com algo que é seu mesmo que esse algo seja um item essencial? 

Pedro: Se não for um caso de vida ou morte, sim.

Bento: Bom, como seu argumento de antes contra a propriedade privada depende da ideia de que é sempre errado lucrar com algo essencial e acabamos de ver que isso está errado, seu argumento não funciona. Significa então que algumas propriedades privadas são lícitas, não é verdade?

Pedro: Isso é algo que eu não tinha parado pra ver antes. Talvez não seja verdade porque a propriedade privada é ao mesmo tempo algo desnecessário para o dono e necessário para quem não tem nada, diferente dos itens nos exemplos com vendas, então, embora lucrar não seja sempre errado, lucrar com propriedade privada sempre é.

Bento: Mas a comida, a roupa, serviços médicos e tantas outras coisas muitas vezes são desnecessárias para o vendedor, já que ele está disposto a trocar elas, e necessárias para aquele que está disposto a comprar. Se o lucro é valido com essas coisas, então possuir propriedade privada é "certo" em algumas situações. Nos dois casos você é dono de algo e lucra trocando o acesso com outro por outra coisa.

Pedro: Só que na propriedade privada você priva o outro de moradia ou do necessário para o trabalho e então "troca" o acesso a propriedade necessária. Não é justo porque não há outra opção.

 Bento: Bom, se eu sou o único médico ou fazendeiro disponível em uma região então as pessoas negociam comigo ou morrem. Eu privar elas do acesso gratuito a essas coisas é errado? Não vejo como você pode negar que  seja justo cobrar nesses casos sem cair em comunismo.

Pedro: Entendi. Talvez você tenha razão, até...   

Hans: Não é bom tomar uma porrada dessas, né?

Pedro: Não é muito prazeroso, mas deve ser útil...

Henrique: Pra alguém que não acredita em valores, até que você entende do assunto!

Bento: Eu fui comunista, então aprendi algumas coisas.

Henrique: Faz sentido.

Bento: Então, David, tinha pensado em algo assim? 

David: Tinha. Me parece que a ideia de que o individuo tem que ser protegido de tudo que "oprime" naturalmente cai em algo assim. 

Stuart: Então o argumento contra o Estado falha? 

Pedro: Pelo visto sim. As dificuldades que vocês colocaram pra anarquia mostram que nâo é a opção mais vantajosa e não tenho mais um argumento moral contra isso, então terei que apoiar a existência de algum tipo de Estado. Não apoio todos os tipos, é claro, já que a propriedade deve ser bem distribuida.

Stuart: Poucas pessoas serem donas de tudo é ruim mesmo. Querendo acabar com isso, que tipo de medidas você sugere então?

Pedro: Além de dividir bastante o país, para termos comunidades mais orgânicas, devemos acabar com toda ajuda estatal à concentração de recursos. Então ter uma reforma agrária, se livrar da propriedade intelectual, parar de dar subsídios para grandes organizações privadas e remover algumas regulamentações que só servem para prejudicar pequenos competidores no mercado seriam medidas bem úteis. Assim a competição ia acontecer mais naturalmente.

Stuart: Entendo. São medidas bem interessantes e necessárias aqui nesse país se você quer combater privilégios.

David: São ideias realmente interessantes, alguém ai discorda de algo?

Hans: Sim, essa ideias dos trabalhadores serem os donos dos meios de produção não faz muito sentido, já que as responsabilidades desse cargo hoje são muito grandes para alguém cuidar enquanto realiza o resto do trabalho. Uma separação forte entre trabalhador e chefe é necessária.

Pedro: Bom, muitos trabalhadores autônomos, donos de empresas familiares e membros de cooperativas são donos dos meios de produção que usam. É claro que enormes organizações em uma economia oligopolista vão gerar tanto volume de dados que se precisa de gente que lida unicamente com eles. Pequenas organizações em uma economia descentralizada são bem mais fáceis de administrar.   

Hans: Mas ter profissionais com o estudo e tempo pra lidar com isso torna a empresa mais eficiente, então é melhor deixar como tá. 

Pedro: Ao contrário, o modelo atual é bem menos eficiente se comparado com um onde o trabalhador é dono dos meios de produção.

Hans: Pode explicar?

Pedro: É claro. Se eu fizesse um desenho e pedisse para você descrever o desenho para uma outra pessoa que ia desenhar com base na sua descrição, esse segundo desenho ia parecer com o primeiro?

Hans: Não muito, já que eu poderia não notar certos detalhes ou descrever algumas partes errado, fora que a outra pessoa não ia visualizar perfeitamente pela descrição ter que ser interpretada, de forma que mesmo uma descrição perfeita não seria o bastante.

Pedro: Perfeito. Bom, mesmo alguém que observa o chão da fabrica não vai ter o mesmo conhecimento da situação que o trabalhador, seja por falta de experiência ou por certos conhecimentos  não serem conseguidos sem estar fazendo o trabalho. Quando você sobe na hierarquia o problema piora, já que os superiores vão ter ainda menos contato com o nível operacional, lidando quase só com relatórios, vão ter um volume de dados muito maior para analisar e muito provavelmente vão ter ainda menos experiência com o trabalho. O que um CEO realmente conhece dos níveis mais baixos? Provavelmente quase nada. Mesmo que todo funcionário deseje o bem da empresa, esse problema do conhecimento continua, o que fica ainda pior com a falta de motivação média... 

Hans: E por acaso a falta de motivação é culpa do sistema também?

Pedro: Claro. Quando o trabalhador é o dono dos meios de produção seu trabalho é controlado unicamente por ele mesmo e beneficia principalmente ele e sua família. Nesse caso, ele tem o controle do que faz, o quanto faz e onde faz, ele pode trabalhar no ritmo necessário para ter o que precisa e pronto. Assim, o trabalho é uma forma de se alimentar e alimentar quem se ama. Não é assim? 

 Hans: É verdade.

 Pedro: Mas não é assim para o assalariado. Ele labora mas não somente para si, labora principalmente para o dono dos meios de produção. Ele, por não ser o dono de nada, só tem a liberdade que lhe for dada por outro, que geralmente não é muita. Além disso, o assalariado não trabalha somente o necessário para os seus, mas ele também tem que produzir muito mais do que isso para compensar pelo seu salário e não ser substituído por outro, o que pode significar a pobreza. Nesse caso, o assalariado trabalha feito uma maquina, seguindo os comandos de outro, e em grande parte para sustentar aquele que lhe tira a liberdade. Não é assim?

 Hans: É a verdade que é assim para muitos, embora as empresas tenham formas de tornar o trabalho mais prazeroso para o colaborador.

Pedro: Mas ai é que está: quando o trabalhador é dono dos meios de produção, seu trabalho vai gerar receita para si e pros seus, ele trabalha no ritmo que quiser e sabendo que sua produção só beneficia a ele e quem ele quiser, a motivação é fácil de se ter. O assalariado não tem nada disso, então precisa do acompanhamento de profissionais para lidar com problemas causados pelo trabalho. Precisa de lideres motivadores, slogans, missões, valores etc para internalizar as metas da empresa. E, claro, mesmo com tudo isso ainda precisa de cobrança e supervisão pra manter a produtividade. Isso tudo não parece gastar recursos demais?  

Hans: São falhas importantes, mas existem formas de lidar com esses problemas.

Pedro: Verdade. Mas os métodos, funcionando ou não, são enxugar gelo. Vale a pena gastar recursos, estudo e pessoas para manter um sistema falho de nascença? Não é melhor corrigir as falhas atacando a base: a separação entre o usuário e o dono dos meios de produção?

Stuart: É, admito que são problemas meio grandes, não tinha pensado na relação entre eles e o trabalho assalariado.

David: Também não. Consigo ver como esse modelo descentralizado é mais eficiente.

Hans: Se é mais eficiente, como o modelo centralizado é muito mais popular hoje?  O mais eficiente vence num livre mercado sempre.

Pedro: Estamos num livre mercado?

Hans: Não. O Estado interfere pesadamente na economia, favorecendo muitas vezes poucos amigos do rei, impedindo a competição e assim piorando a vida dos outros.

Pedro: Então você está me perguntando porque a economia é toda centralizada mesmo sabendo que o Estado favorece uma economia centralizada?

Hans: É... entendi o erro.

Pedro: Isso é bom. Alguém tem alguma outra objeção?

Bento: Como ficaria a produção da cultura numa sociedade onde a desigualdade é menor? Tradicionalmente, as classes ociosas que produziam a literatura, a música etc. 

David: Já ouvi isso antes em circulos mais tradicionalistas, mas nunca entendi muito bem. Acha que a maioria dos donos dos meios de produção produzem muita cultura?

Bento: Não diretamente, mas os maiores financiam. A aristocracia sempre teve o papel de gerar a cultura enquanto o povo trabalhava para gerar os recursos. Desse forma, se mantinha o equilíbrio. 

David: E é uma boa cultura ou o que vemos na grande mídia é mais um monte de bobagem hedonista?

Bento: É, não é nada que vale a pena, é verdade.

David: Bom, já temos hoje com a internet outros jeitos de financiar artistas, muitos vivem só de ajuda dos fãs. Acho que com mais pessoas sendo donas dos meios de produção, e com isso tendo condições de bancar quem gosta, isso se popularizaria mais e a cultura provavelmente se desenvolveria de um jeito mais orgânico. Com certeza ia ser melhor do que a cultura de massa atual...

Pedro: Obrigado, David, ia dizer isso mesmo. Recebendo o valor total do seu trabalho o individuo ia poder escolher bem mais o que consumir, sem ter que aceitar o que é mandado de cima. Vocês mais conservadores com certeza iam preferir que a cultura venha de baixo, não é?

David: É, talvez fosse um jeito de acelerar a mudança da cultura de massa para a volta de uma cultura orgânica, como na maioria dos povos. 

Bento: Faz sentido. Impressionante como por baixo dessa retórica igualitárista tinha algo que presta. 

Pedro: É o poder da verdade, sabe. 

David: Enfim, alguém tem alguma outra objeção ou todo mundo concorda que distribuir os meios de produção ia ser bom?

Henrique: Não lembro de nada.

Stuart: É também não.

Pedro: Então só falta as suas sugestões, Henrique. Como salvar essa sociedade? 

Henrique: Bom, é até simples, pelo menos na prática. Começo lembrando do obvio: Deus é o dono de todos os recursos naturais, então não podem ser nossa propriedade. Esse é o ponto de partida.

Pedro: Sério? Você me perdeu ai...

Stuart: Também...

Hans: Não vejo o que a religião tem a ver com isso não.  

Bento: É melhor ter um outro ponto de partida. Tudo bem que a moral de escravo igualitarista nos deu uma boa ideia, mas dificilmente surgem no mesmo dia duas ideias que prestam dessas fontes ruins.

David: Bom, eu concordo que é melhor não falar desse tipo de coisa aqui. Tem outro jeito de argumentar?

Henrique: Tenho sim, é que era mais fácil de visualizar assim. 

David: Então vá em frente.

Henrique: Certo. Como já vimos, o direito a propriedade não pode ser tão forte a ponto de impedir os outros de terem qualquer chance de ter acesso aos recursos, já que não há diferença entre isso e agressão. Nesse caso, eu proponho algo mais radical: não é possível que recursos naturais sejam propriedade. Como os recursos naturais, diferente do capital, tem uma oferta fixa, deixar alguém se apropriar deles seria permitir a agressão. 

Pedro: Sim, você tinha dito isso antes.

Stuart: Então de quem os recursos naturais seriam?

Henrique: Já que não querem falar de Deus, dá pra dizer que a natureza não pertence a ninguém. Todo ser humano tem o direito natural de usar recursos naturais, mas não de os tratar como propriedade. 

Bento: Você me parece bem anti-comunista, vai defender que a terra tem que ser nacionalizada ou coisa assim?

Henrique: De jeito nenhum, os recursos naturais não são propriedade mas devem ser tratados como tal, com as pessoas que usam algum podendo impedir outras de usarem. 

Bento: Entendi. 

Stuart: Estava pensando nisso e me veio na cabeça: eu não devia receber algum tipo de compensação por alguém se apropriar de um recurso natural? Afinal, é um roubo contra a comunidade!

Henrique: Isso! Já ia chegar nisso.

David: Por que ter acesso exclusivo a um recurso natural é um roubo?

Stuart: O valor de um local não é construído pelo dono, geralmente. Imagine que você tem um terreno com um valor tal e outras pessoas começam a construir shoppings, lojas, escolas, belos apartamentos etc bem próximos desse local. Sua propriedade não vai passar a valer muito mais?

David: Vai sim.

Stuart: E você ajudou a criar esse valor?

David: Entendo. Realmente, o dono se apropria de um valor criado pela comunidade.   

Stuart: Por isso me parece que é um roubo, tem que ter algum jeito de compensar por isso. 

Henrique: Bom, na verdade tem sim. Primeiro, temos que lembrar que é necessário que eu aja como o dono de recursos naturais porque se eu não tiver acesso exclusivo a eles então vou perder as melhoras que meu trabalho gera no recurso, como uma casa construída na terra. Então, nacionalizar tudo está fora de questão. A solução é então o individuo ter que pagar de volta à comunidade o valor que ela constrói via um imposto sobre o valor da terra.

Hans: Como assim?

Henrique: Pagar de imposto o equivalente ao valor da área possuída, mas desconsiderando a propriedade ou outras melhoras. Se você tem uma casa paga pelo terreno em que ela fica mas não por ela.  

David: Com os valores tão altos de hoje, talvez até desse pra financiar o Estado só com esse imposto.  

Henrique: Você chegou na minha ideia! É isso mesmo que eu quero: abolir todos os impostos, exceto o único. O Imposto Único ia tornar meio que inviável ter várias propriedades, dando um duro golpe naqueles que vivem de aluguel e em especuladores. Isso ia garantir que a distribuição de habitações fosse mais equilibrada, dando a muitos a chance de ter seu próprio terreno e se libertar do jugo do aluguel.

David: É uma ideia e tanto! Além desse efeito, cortar os outros impostos seria muito bom, já que ia permitir um aumento da produção e da geração de emprego. Vou procurar algum defeito, já que é bom demais pra ser verdade.  

Stuart: Tanto o corte dos impostos sobre geração de renda quanto a maior oferta de terrenos acessíveis iam garantir esse efeito. Tenho que procurar defeitos também, já que isso pode resolver a desigualdade e o desemprego juntos!

Henrique: Acho que não tem defeito, não. Mas já que estamos falando disso, alguém tem alguma objeção à essas minhas ideias?   

Pedro: Apesar de provavelmente contribuir muito pra diminuir o monopólio da terra e a desigualdade, são bem estranhas. Esse imposto não poderia fazer as pessoas comprarem pouco terreno e usarem ele ao máximo? Por exemplo, construírem, ao invés de casas, prédios lotado de andares ou gastarem todos os recursos naturais de uma área rapidamente.

Henrique: Bom, realmente ia ter esse efeito. Sobre as casas, seria melhor, já que com um uso menos ineficiente da área as cidades seriam menores. Teríamos menos gasto com logística, menos necessidade de usar carros e com isso menor transito e poluição. 

Pedro: É verdade, isso seria bom. Mas e quanto ao gasto dos recursos naturais? Com esse imposto, seria bom maximizar o valor tirado da área área que você controla.

David: Além disso, reduzindo os recursos você ia ter uma diminuição do valor da área, o que diminuiria o imposto pago. Isso ia incentivar mais exploração.

Stuart: Mas então o Estado teria interesse em melhorar as regiões e impedir a depredação e poluição, não? Já que ai o valor das áreas aumentaria e também o imposto.

Pedro: Não pensei nisso, realmente ia causar algo assim.  

David: É verdade, seria um efeito interessante.

Henrique: Exato! O Estado teria interesse em garantir que as coisas melhorem, o que seria bom em todos os sentidos.  Provavelmente multas e regulamentações anti-poluição teriam mais importância, eu mesmo apoiaria.

Pedro: Entendo, então esse imposto não sofre realmente com a minha objeção.  Alguém tem a próxima?  

 Bento: O que, por exemplo, impediria o dono de um apartamento de aumentar o preço do aluguel ao começar a ter que pagar esse imposto?

 Henrique: Por que ele não aumentou o preço antes do imposto?

 Bento: Se ele tivesse aumentado antes, o seu inquilino poderia não ter como pagar ou não querer pagar e ir para um lugar mais barato.      

 Henrique: Então antes do imposto ele já está cobrando o máximo que pode sem perder o inquilino?

Bento: Exatamente.

Stuart: Então ele não pode aumentar mais! O preço do aluguel é definido pela oferta e demanda e o imposto não vai diminuir a oferta de apartamentos na área nem aumentar a demanda, logo, não tem como aumentar o aluguel assim. 

 Henrique: Isso. Na verdade, a tendência seria o preço médio do aluguel cair com o Imposto Único. Isso porque com algumas pessoas desistindo de viver de aluguel e vendendo suas propriedades teria mais lugares pra comprar e, com esse aumento da oferta, preços menores, tornando mais fácil para o inquilino sair do apartamento e arranjar outro lugar. Além disso, como melhorias no local não seriam mais taxadas, você teria apartamentos com mais vagas, de novo facilitando a vida do inquilino.  

Bento: Entendi, faz sentido. 

Henrique: Ótimo. Falta algum problema com a ideia?

Hans: Se o imposto só considera a área em si e não o construido nela, então tem que haver uma separação entre o preço das duas coisas. Como fazer pra separar os dois? Mandar um bando de burocratas separar seria bem ruim. 

Bento: Mas já não se faz isso? Basta olhar transações com propriedades semelhantes. O mercado imobiliario já faz o trabalho.

Hans: Certo. Mas forçar toda a terra a ser usada assim não ia desperdiçar recursos por fazer trabalho e capital serem gastos com as áreas menos capazes de gerar valor?

Henrique: Não, acho que o contrário ia acontecer. Isso porque as áreas que mais são capazes de gerar valor, por serem mais caras, iam ter que pagar mais imposto, então seriam largadas primeiro, liberando áreas melhores para o uso produtivo.

Pedro: Fora que essas áreas mais caras tem mais usos não-produtivos como especulação e rentismo, então liberar elas realmente ia dar ao trabalho lugares mais eficientes para usar. 

Hans: Entendi. Não sei do que reclamar agora, é uma boa ideia.

Pedro: Verdade. Alguém tem alguma objeção ainda? 

Henrique: Parece que não. 

Stuart: Então teminou, já discutimos as sugestões para tornar esse país bom.

David: Exato. Vou precisar pensar bastante, tem muitas ideias interessantes. 

Bento: Eu também. Isso levanta a questão: como aplicar essas ideias?

Pedro: Acredito que devemos defender as ideias com bons argumentos de forma a começar a conscientizar o povo até termos condição de produzir alguma militância politica e assim mudar essa sociedade via voto.

Henrique: Concordo.

Bento: Tem chance disso funcionar?

David: Do voto mudar o país pra melhor? Não. E uma ditadura seria ainda pior, como vimos antes.

Stuart: Infelizmente, é verdade.

Henrique: É... concordo.

Hans: Concerteza.

Pedro: Bom, a história... é imprevisível, sabe.

Bento: Complicado...

Iluminação

 Não quer luz quem dorme. Iluminado, ruim é o despertar. Grogue, não entende ao escutar, A luz não leva a enxergar, Os olhos ela só faz irri...